Zuzu Angel e a representação da esquerda armada
Zuzu Angel, o filme de Sérgio Resende, conta com emoção a história da estilista que teve o filho Stuart assassinado pela ditadura militar. Desafina, porém, no tom de cenas e falas dos jovens guerrilheiros dos Anos 60 e 70 e, também, dos personagens da repressão militar. Estes assumem com naturalidade excessiva o papel de vilões. Dos que combateram a ditadura, fica o retrato caricato de jovens cheios de boas intenções, mas ingênuos e irresponsáveis.
Creio que é comum perceber esse mesmo retrato dos jovens rebeldes em outras obras que procuram interpretar ou representar os acontecimentos da luta armada no Brasil.
Comentando, dez anos atrás, a safra de livros sobre a luta armada no Brasil, o historiador Daniel Aarão Reis Filho, publicou o artigo Este imprevisível passado, que resume quatro das interpretações sobre estes movimentos:
“Primeira: meninos alucinados, ou a conciliação de uma sociedade cordial, cansada das lutas que não travou. Segunda: resistentes heróicos, ou a denúncia de uma ditadura com a qual a sociedade não se comprometeu. Terceira: revolucionários que se apresentam como contra-elite, ou a desconfiança de uma vanguarda iluminada no contexto de uma sociedade que não se revoltou contra a sua ditadura. E, finalmente, uma versão apenas tateante, que refere o processo à construção de um ethos, um conjunto de valores, sem a compreensão dos quais nunca será possível compreender estes estranhos anos, quando ainda era possível amar a revolução”.
O artigo conclui que é possível combinar uma ou outra interpretação, mas que não dá para juntar todas no mesmo balaio, sob o risco de produzir incongruências. Aarão Reis observa que as interpretações da história refletem aspirações e interesses distintos. Quando escolhe uma versão do passado, a pessoa está “se posicionando no presente e propondo uma opção de futuro”.
Entendo que, para além de aspirações e interesses, é mesmo difícil compreender – e representar – hoje o que levou aquelas poucas pessoas, na maioria adolescentes, a desafiar o regime militar e acreditar na revolução.
É difícil entender sua maneira de pensar e suas ações. Seria preciso articular com mais rigor e sensibilidade o ambiente político e as histórias pessoais e, sobretudo, considerar o que representava para aqueles jovens viver sob ditadura. Todos estavam submetidos, como ainda estamos, a um sistema injusto e retrógrado. A diferença é que as vozes dos insatisfeitos estavam caladas, toda opinião e ação política não colaboracionista era reprimida com violência. Para aquele tipo de gente não havia escolha. Não iriam concordar nem se omitir. Para eles, a ditadura forçava a opção pelas armas.
Como compreender isso fora da experiência da ditadura? Como representar? Ainda mais se hoje parece claro que, apesar das boas intenções dos que lutaram, nem tudo o que se pretendia corresponderia, se acontecesse, aos seus desejos e sonhos.
Creio que é comum perceber esse mesmo retrato dos jovens rebeldes em outras obras que procuram interpretar ou representar os acontecimentos da luta armada no Brasil.
Comentando, dez anos atrás, a safra de livros sobre a luta armada no Brasil, o historiador Daniel Aarão Reis Filho, publicou o artigo Este imprevisível passado, que resume quatro das interpretações sobre estes movimentos:
“Primeira: meninos alucinados, ou a conciliação de uma sociedade cordial, cansada das lutas que não travou. Segunda: resistentes heróicos, ou a denúncia de uma ditadura com a qual a sociedade não se comprometeu. Terceira: revolucionários que se apresentam como contra-elite, ou a desconfiança de uma vanguarda iluminada no contexto de uma sociedade que não se revoltou contra a sua ditadura. E, finalmente, uma versão apenas tateante, que refere o processo à construção de um ethos, um conjunto de valores, sem a compreensão dos quais nunca será possível compreender estes estranhos anos, quando ainda era possível amar a revolução”.
O artigo conclui que é possível combinar uma ou outra interpretação, mas que não dá para juntar todas no mesmo balaio, sob o risco de produzir incongruências. Aarão Reis observa que as interpretações da história refletem aspirações e interesses distintos. Quando escolhe uma versão do passado, a pessoa está “se posicionando no presente e propondo uma opção de futuro”.
Entendo que, para além de aspirações e interesses, é mesmo difícil compreender – e representar – hoje o que levou aquelas poucas pessoas, na maioria adolescentes, a desafiar o regime militar e acreditar na revolução.
É difícil entender sua maneira de pensar e suas ações. Seria preciso articular com mais rigor e sensibilidade o ambiente político e as histórias pessoais e, sobretudo, considerar o que representava para aqueles jovens viver sob ditadura. Todos estavam submetidos, como ainda estamos, a um sistema injusto e retrógrado. A diferença é que as vozes dos insatisfeitos estavam caladas, toda opinião e ação política não colaboracionista era reprimida com violência. Para aquele tipo de gente não havia escolha. Não iriam concordar nem se omitir. Para eles, a ditadura forçava a opção pelas armas.
Como compreender isso fora da experiência da ditadura? Como representar? Ainda mais se hoje parece claro que, apesar das boas intenções dos que lutaram, nem tudo o que se pretendia corresponderia, se acontecesse, aos seus desejos e sonhos.